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O título dos que acreditaram

02/07/1997 – mais uma data em que o Gigante tremeu/Imagem: Rede Globo

A temporada de 1997 ficou marcada na memória do povo alvirrubro. Não apenas por conta da boa campanha no Campeonato Brasileiro, mas também, e principalmente, devido à conquista do Campeonato Gaúcho, título que figura entre os mais comemorados de nossa história. Troféu estadual de número 33 da biografia do Clube do Povo, foi erguido há exatos 23 anos, no dia 2 de julho, diante de um eufórico Beira-Rio, trepidante após triunfo de 1 a 0 do Colorado sobre o maior rival. Confira, abaixo, especial da Rádio Colorada sobre a feito!

Desacreditado pela crônica, o Inter fechou a primeira fase do Gauchão, iniciada ainda no mês de fevereiro, na quarta colocação. Embora modesto, o desempenho garantiu o Clube do Povo no pentagonal seguinte, encerrado na liderança do grupo, evolução justificada muito pelo brilho de nomes como André, goleiro, Gamarra e Régis, zagueiros, Sandoval, meio-campista, e Fabiano, atacante. Era então chegada a hora dos confrontos eliminatórios, e o Colorado enfrentaria, na semifinal, os serranos do Veranópolis.

Os 90 minutos iniciais do embate entre VEC e Clube do Povo foram disputados no Estádio Antônio David Farina. Fora de casa, o Colorado até saiu na frente, mas não segurou o resultado, sofrendo a virada para os donos da casa, vitoriosos pelo placar de 2 a 1. Diante da desvantagem, a vitória no Beira-Rio restava como única alternativa.

Nos anos 90, Beira-Rio foi, como nunca, o grande craque colorado/Foto: Divulgação

Inicialmente marcada para o dia 22 de junho, a partida de volta foi adiada em 24 horas, consequência de intenso temporal que assolou a capital gaúcha. Assim, uma inusitada segunda-feira serviu de data ao embate. Em resposta à data, que poderia afastar o público do Beira-Rio, o Inter abriu os portões do Gigante, que recebeu mais de 60 mil pessoas. O resultado da soma entre time e torcida, é claro, não poderia ser diferente da classificação para a final. No tempo normal, Marcelo, Christian e Sandoval construíram o 3 a 0 alvirrubro, enquanto, na prorrogação, Fabiano e Gustavo garantiram o Clube do Povo na decisão do Rio Grande do Sul.

Vivendo boa fase em nível nacional, o Grêmio, adversário na luta pela taça gaúcha, carregava o favoritismo. Entrosado, o time da Azenha encarava um Clube do Povo em franca ascensão, é verdade, mas que ainda não conseguira atingir o potencial esperado. No comando de ataque, por exemplo, um verdadeiro ‘vestibular dos centroavantes’ despertava dúvidas na torcida colorada. Afinal de contas, quem seria o camisa 9 responsável por simbolizar a esperança de um gol de título? O escolhido surgiu, após boa dose de sofrimento, ainda na partida de ida, disputada no Estádio Olímpico.

Christian marcou na semifinal, contra o Veranópolis/Imagem: RBSTV

De cabeça, logo aos três minutos, Wágner Fernandes abriu a contagem para os donos da casa. Lamentado pelo Inter, o tento não abalou a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, sabedora de que o fim do jejum estadual estava próximo. Locais no campo adversário, ainda na etapa inicial, quando transcorridos 39 minutos, assistimos ao gabarito de Christian, que, em um pataço de direita, marcou o de empate do Colorado. Um gol para cada lado, partida encerrada e decisão em aberto para o Gigante da Beira-Rio.

Centroavante colorado também fez bonito no Olímpico/Imagem: RBSTV

Poucos dias depois do duelo no Olímpico, contudo, o otimismo deu lugar à angústia entre os colorados e coloradas. Após uma dividida com Paulo Diniz durante treino preparativo à finalíssima, Fabiano, uma das grandes estrelas daquela geração, teve que ser atendido pelo Departamento Médico, que imobilizou o joelho do camisa 7. O atacante, portanto, passava a ser encarado como um inevitável desfalque – não confirmado.

Foi durante o anúncio das escalações que o Beira-Rio despertou em definitivo para a final. Ansioso, o povo que coloria o Gigante esfregava as mãos não em consequência à gélida temperatura registrada na noite do dia 2 de julho, mas sim por tensão quanto ao estado de seu ídolo. Vagarosa, a locução do Gigante anunciou, com irritante convicção, os nomes que antecediam a linha de frente. No gol, André. Na defesa, Enciso, Márcio, Gamarra, ídolo que fazia sua patida de despedida, e Régis. O meio tinha Anderson, Fernando, Arílson e Sandoval. E o ataque? Sim, o ataque contava Fabiano, confirmação que fez a torcida explodir. Era noite de final, e o camisa 7, junto do companheiro Christian, fazia a massa acreditar no troféu.

Os campeões: André, Régis, Gamarra, Anderson, Márcio e Enciso. Fernando, Christian, Arílson, Sandoval e Fabiano

Não nos empolguemos, todavia, antes da hora. Dolorida e também docente, a década de 90 legou muitos aprendizados aos resistentes e bravos indivíduos que, contra qualquer prognóstico ou racionalidade, apegaram-se, como nunca, ao literal significado do vermelho. Cor batalhadora, provou-se capaz de simbolizar com cirúrgica exatidão a perseverança que tanto foi companheira do povo colorado ao longo dos anos que antecederam a chegada do século XXI. Comemorada, a titularidade de Fabiano suscitou novos questionamentos, agora referentes às condições físicas que o atacante apresentaria. Felizmente, estes foram, de imediato, rechaçados pela inabalável mística da ponta direita alvirrubra.

Fabiano não deu chances a Danrlei/Foto: RBS

Nesta quarta-feira (02/07), Fabiano conversou com o Programa do Inter, da Rádio Colorada, a respeito do título de 1997. Confira:

Depois de Tesourinha, Valdomiro e Maurício, era chegada a vez de Fabiano escrever seu nome na história do Clube do Povo. Aos quatro minutos do segundo tempo, o camisa 7 recebeu lançamento de Enciso e partiu, ela direita, em direção ao gol do Gigantinho. Inalcançável, já dentro da área desferiu chute violento no ângulo esquerdo de Danrlei, que nada pôde fazer. Gol. Gol dos que nunca deixaram de acreditar. Do mais inabalável dos povos. Gol do Inter e do Beira-Rio.

A pintura do camisa 7/Imagens: Rede Globo

Em vantagem no placar, o Clube do Povo esbanjou tranquilidade para segurar o triunfo. Serena, a postura talvez tenha surpreendido os adversários, que tanto nos subestimaram, mas não passava de mais um natural traço do DNA vencedor do Colorado. Seguro na defesa, formada também pelas dezenas de milhares de vozes que agouraram cada troca de passes rival, o Inter foi bondoso com o Grêmio, sequer permitindo aos visitantes, incapazes de se aproximar da área de André, a ilusão do empate. Régis, titular na finalíssima, comentou, em entrevista concedida para o Programa do Inter nesta quinta-feira (02/07), a solidez exibida por nossa retaguarda na ocasião:

Time e torcida jogaram juntos nos últimos minutos/Imagens: Rede Globo

Tricampeão brasileiro e há muito afirmado como patrão do Rio Grande do Sul, o Inter provou que não existe, em nosso estado, camisa como a vermelha. Vermelha encarnada, da Ilhota ao aterro. Do topo do pódio ao choro na Coreia. Verdadeiro manto, vivido, provado, atestado e pesado. Manto que, pouco mais de 40 minutos depois do tento de Fabiano, foi também coroado. Inter, campeão gaúcho de 1997!

A festa de Gamarra com o povo colorado/Imagens: Rede Globo